sábado, 17 de dezembro de 2016

lá e de volta outra vez

Como já havia comentado aqui, estou cursando Psicologia. E foi mais ou menos assim que aconteceu:

Nos idos de novembro do ano passado eu estava fazendo terapia com um psicólogo. Como sempre, mais uma tentativa de tratar meu transtorno alimentar. A terapia em si não deu muito certo, na verdade, nem um pouco certo. Mas em uma das sessões conversamos sobre formação acadêmica. Ele me contou de um sonho que ele tinha quando cursava Economia lá em Caracas (ele era venezuelano e trabalhava com hipnose “bem dormido, bem dormido...”) e que só parou quando ele decidiu trocar o curso e estudar Psicologia. Porque era disso que ele gostava, na verdade.

Eu me identifiquei pelo fato de não ser feliz no Direito. Eu realmente não sei por que optei por estudar o Direito. Eu sempre achei que era isso que eu queria. Aos 11 anos dizia que queria ser Promotora de Justiça – risos + sinal da cruz.
E talvez por estudar sempre em escola de classe média, achava que minhas opções eram Direito ou Medicina. Meus pais nunca me forçaram a escolher determinado curso, eu apenas não cogitei fazer outro.
E Direito foi aquela coisa, né. Como um relacionamento abusivo, eu acreditava que o curso ia mudar, uma hora ia chegar uma matéria que eu gostasse ou eu ia tomar gosto pela coisa ou que era assim mesmo, fazer o quê, não é possível ter tudo nesta vida.

Tudo era muito difícil e pesaroso. Meus pais diziam que, se eu me dedicasse, seria uma ótima advogada ou qualquer coisa que o valha. Mas eu não queria me dedicar e achava que era preguiça, falta de força de vontade. Terminar a faculdade (depois de 7 anos) foi um parto. Uma conquista, mas um parto. E claro que quando você termina a faculdade de Direito você é... nada, né. Aí tivemos a OAB. Reprovei. Fiz de novo até passar. Passei. Virei Professora Assistente num curso preparatório e pude ajudar alguns alunos que também passaram pela mesma dificuldade que eu.

Mas tudo sempre muito pesado, muito difícil, muito nervosismo envolvido nisso tudo. Mas eu fui dando um jeito. Eu fui dando conta.

Até que eu percebi que eu não precisava. Ao conversar com o Psicólogo, eu disse que me interessava, na verdade, por Psicologia e que ainda quando cursava Direito eu me interessei por esta área. Mas eu me considerava velha para recomeçar, até por serem áreas bem diferentes.

No entanto, ele disse que uma segunda graduação é bem diferente da primeira. Que temos mais maturidade e levamos de outro jeito. E eu fiquei pensando naquilo durante minha volta para casa e, chegando lá, conversei com meus pais. Falei que estava muito infeliz no Direito e que só de pensar em investir mais de mim nesta área já me deixava desanimada.

Então disseram para eu ver se tinha Psicologia na Universidade Municipal de São Caetano do Sul – USCS (já que se eu fosse estudar pra uma pública eu teria que tirar um ano só pra isso etc.). Entrei no site da USCS e as inscrições para o vestibular estavam abertas. Me inscrevi.

No dia 13 de dezembro de 2015, meu pai trouxe pastel da feira para almoçarmos e depois fomos ao campus ali perto de casa. Eu, ele e a cachorra. Fiz a prova, com tranquilidade mas também com certa expectativa.

No dia 15, recebi o e-mail com o resultado:

1° lugar? Rapaaaaz...
O curioso é que no vestibular para Direito, eu passei em último lugar, em 6ª chamada. A raspa do tacho.
Dessa vez, passei em primeiro e ainda acabei ganhando bolsa de 50% de desconto nas mensalidades do 1° semestre inteiro. Parece que o jogo virou, não é mesmo?

De último a primeiro lugar. E vou te dizer que, apesar dos trocentos trabalhos em grupo que temos que fazer todo santo semestre, estou gostando e meu desempenho é muito melhor do que no Direito. Tem esforço, é cansativo, mas tudo sempre permeado pela certeza de estar fazendo o curso que eu quero e gosto.

Ciente e grata pela oportunidade que estou tendo de recomeçar, espero que, por meio da minha nova profissão, possa ajudar àqueles que não a tiveram ao longo da vida.