terça-feira, 20 de novembro de 2012

das coisas que fazemos por capricho

Quando eu tinha 15 anos, meu professor de Filosofia falou sobre a diferença entre fazermos a primeira coisa que nos vem à cabeça, fazer aquilo que queremos e fazer as coisas simplesmente por capricho.

Para exemplificar as duas primeiras hipóteses, ele citou os personagens Vronski e Liêvin do romance Ana Karenina (meu romance predileto até agora, que li justamente pela indicação desse professor). Segundo ele, Vronski fez o que lhe veio à cabeça, enquanto Liêvin, por outro lado, fez o que queria, mas apenas quando foi possível. 

Li o livro e não passei perto de fazer esta análise -mesmo a leitura tendo sido posterior à aula. Até que, escrevendo sobre isso, agora, vejo que faz sentido. Mas nem foi nisso que fiquei pensando durante todos esses anos (nem tantos assim). Antes, fiquei pensando, diversas vezes, sobre as coisas que fazemos por capricho.

Segundo a explicação dele, são coisas que fazemos apenas por fazer. É como chutar uma lata ou uma pedra que encontramos na rua e ir chutando até que elas tenham saído da nossa frente. Bater um graveto nas grades ou no portão de alguma casa. Arrancar uma folha ao passar por uma planta. Esvaziar uma bexiga fazendo barulho. Estourar um balão. Pular para tentar alcançar o teto com a mão.

Isso quando não envolve interação com os outros, como a piada do pavê, que muitas vezes é mais forte que o indivíduo e, antes que ele tenha pensado sobre o assunto, já fez o comentário sobre ver e comer o doce. E isso que faz anos e anos que não como pavê. Mas a piada estará sempre lá e imagino que perpetuará durante muitas gerações.

Também quando duas pessoas estão conversando e passa uma terceira dizendo "É tudo mentira o que ela tá falando, não acredita nela, não, é tudo mentira." Já presenciei essa cena constrangedora inúmeras vezes. Gosto de pensar que é por capricho, porque sei que, uma vez que a pessoa falou isso, já se arrependeu em seguida, porque é muita vergonha alheia. Ninguém quer fazer esse tipo de comentário.

Ou quando meu primo cuspiu num doce que minha prima estava preparando. Aquilo foi puro capricho, não tinha razão nenhuma para ele fazer aquilo. E claro que o doce foi servido mesmo assim.

Outro capricho recorrente era quando, na época de internet discada, a conexão de alguém caía e, quando voltava para o chat, o outro perguntava "Machucou?" Foi cute até certo ponto, depois acabou ficando repetitivo e, felizmente, hoje em dia a internet nem cai tanto assim e, quando cai, ninguém mais faz essa pergunta - eu imagino.

Acho que este texto eu escrevi por capricho. Ou talvez porque eu quis. Porque se fosse a primeira coisa que tivesse me vindo à mente, ele teria, no mínimo, 11 anos.

Então fica aí a reflexão de que às vezes fazemos o que queremos, às vezes fazemos a primeira coisa que nos vem à cabeça e, em grande parte dos casos, fazemos coisas por capricho.

A menos que eu não tenha entendido nada do que o professor estava tentando ensinar. Mas isso não é mais problema meu, afinal, já passei nessa matéria.