quarta-feira, 13 de junho de 2012

diana - parte II

"DIAAANA!!"
"Ai, não precisa gritar, eu tou aqui do lado."
"Ah, desculpa! Pensei que você ia demorar mais..."
"É, eu também, mas... vamos embora."
"Mas e daí, sobre o que vocês falaram?"
"Nem falamos muito, ele estava ocupado com qualquer coisa."
"Clássico."
"É, mas eu já devia ter previsto... olha lá, o ônibus chegando."

Como as duas tinham saído um pouco mais tarde do horário de término das aulas, deram sorte de pegar um ônibus quase vazio.

"Vamos sentar aqui, gosto de sentar no alto" disse Diana.
"É, eu também, melhor lugar, né... pobre tem até lugar preferido no ônibus!"
"É aquela coisa, né. Ponto alto do dia é não perder o ônibus, ele não estar lotado e ainda conseguir sentar no banco preferido e, se possível, na janela."
"Bem isso. No mínimo um desses três, né. Porque tem dia que eu não perco o ônibus, mas também está tão lotado que eu quase fico sem roupa quando chego no fundo. Não tem carência quando se anda de ônibus!"
"Sim, isso é. Sem contar os catraca-lovers, né. Nossa, eles aglomeram muito no meio e no fundo sempre fica espaçoso..."

E continuaram nesse assunto por mais um tempo, até que Rogéria perguntou à Diana sobre como estava o trabalho temporário na secretaria do colégio.

"Então, tá tranquilo. Estamos conseguindo arrumar os arquivos, digitalizar tudo etc. É bem trabalhoso, mas pelo menos ganhamos uns pontos extras... ah, e o lanche também, né."
"Mas e a Cleide tava lá?"
"Nem me fale, ela tá lá todos os dias. Não aguento mais. Ela não sabe mexer no scanner, não sabe mexer em nada e só fica dando opinião, só enrolando, sabe? Nem sei como ela conseguiu o emprego lá. Aposto que foi apadrinhada por alguém."
"Sem contar que quando vamos lá na secretaria, ela nunca sabe responder nossas dúvidas. Sempre manda um 'não sei' e é super grossa."
"Total... com a gente ela tenta ser mais carinhosa, mas dá pra ver que é forçado. O pior nem é isso, é ela ficar dando lição de moral, como se ela fosse uma pessoa exemplar. A gente conversa, lá, com os outros alunos, batemos altos papos e ela só fica escutando. Aí, do nada, ela vira: 'Olha, mas eu vou falar uma coisa pra vocês...' e sempre fala algo nada a ver, fora de contexto. Aí a gente para de falar e depois que ela termina de nos ensinar como se deve viver, voltamos ao assunto normal, como se ela não tivesse falado nada."

Rogéria, ao imaginar a cena, começou a ter uma crise de riso e todo mundo no ônibus começou a olhar pra ela. Mas Diana já estava acostumada com a risada escandalosa da amiga e ela mesma desandou a rir da risada também.

"Não, e o pior é que ela nem é exemplo em nada. Se você for ver, a vida pessoal dela é uma bagunça, então ela vem com essas frases de efeito, senso comum, pra parecer sei lá, madura, centrada, talvez. Sendo que a gente é super sossegado, só fala de assuntos amenos. Aí ela faz umas ligações absurdas, fica falando de filhos de vizinhos que a gente nem conhece, nunca vimos mais gordos. Dá vontade de falar 'Meu, ninguém quer saber!!' Sem contar aquelas frases do tipo 'Não, porque, a partir do momento que a pessoa...' Ela sempre começa as frases com 'Não' ou 'Tudo bem, mas...' Ela discorda de tudo, mesmo que involuntariamente. Olha, bizarro."

Nisso as duas começaram a rir novamente e já foram levantando já que estavam chegando no ponto e, logo depois de puxarem a cordinha, o motorista deu aquela freada brusca, as duas tiveram que se segurar forte para não cair e pronto, começaram a rir tudo de novo.