quarta-feira, 28 de setembro de 2011

ah, o colégio! II

coloca assim: foi Dom Pedro I quem pro-cla-mou...
Nessa história eu tinha 11 anos de idade, estava na quinta série. Era a semana da pátria, a semana do 7 de setembro. Dessa vez o colégio teve a grande ideia de fazer uma gincana competitiva entre as quintas séries com o tema da independência do Brasil. Desconsiderando o fato de a história da independência ser questionável, se D. Pedro I estava em cima de um cavalo ou com dor de barriga quando disse Independência e/ou Morte, essa é uma época em que os professores querem passar a importância do acontecimento para os alunos e tudo o mais.

Sendo assim, era preciso que um dos alunos da sala coordenasse os outros durante a gincana. Nisso, uns 5 alunos se levantaram para concorrer ao cargo de "chefe". Eu fiquei sentada, claro. Dor de cabeça pra quê? Então a professora: "Vai, Ana! Levanta, vai, vai!" Aí eu, com aquela cara de me fazendo de difícil, fiquei em pé. Automaticamente todo mundo sentou, menos uma menina, a Janaína. Então as amigas dela votaram nela e o resto da turma votou em mim.

Confesso que com 11 anos eu era um pouco temperamental e logo vi que coordenar aquilo não seria fácil. Fiquei um bom tempo preparando umas colagens e então outras gurias pegaram e colaram totalmente fora de ordem, o que me deixou extremamente irritada. Lembro-me de ter dado uma bronca nelas, porque não havia tempo e logo as professoras iam passar pelas salas, com aquela cara de paisagem, avaliando nossos trabalhos.

Eu já criticaria toda a gincana, mas teve um fato tão pior que vou ater-me a ele: uma das tarefas era fazer uma música. Isso mesmo. Piazada de 11 anos fazendo uma música sobre a Independência do Brasil. E eu tinha que supervisionar o nosso vexame. Uns meninos apareceram com um rap que falava do Dia do Fico, inclusive. E eu não entendi uma palavra do que eles disseram. Nisso veio outro com a música do bate forte o tambor, eu quero tique tique tique tique tá, a qual foi escolhida. Não ficou bom, mas era o que tinha.

No dia da apresentação, vimos as outras turmas se apresentando. Obviamente teve a turma do rap, em que ninguém entendia o que os meninos falavam, a não ser o refrão, que dizia Independência ou Morte, mas também tinha coreografia, com as meninas vestidas como no filme Mudança de Hábito 2, garotas rebeldes com cara super séria, porque o esquema era sério, muito sério, era um rap sobre a independência, yo!

Outra turma foi só de garotas, que utilizaram a música Garota Nacional, do Skank, cujo refrão ficou assim: "Portugal-gal-gal, Portugal-gal-gal-gal, é o nosso tchau! (2x) Eeeeee-e-e-e-eu quero ter muita sorte! Pra conhecer o rio... o rio da independência ou morte!" 

Mas claro, chegou a vez da nossa apresentação. Lembro-me da Janaína, que estava usando uma jardineira e havia pintado o rosto de verde e amarelo, dizendo ser a mascote. O menino do teclado estava pronto e logo começaram.

O refrão era algo como "Eu quero, eu quero, eu quero, eu quero libertar!" E o menino do teclado selecionou o som de órgão e ficou tocando apenas os acordes, quando um menino de outra turma, que estava perto de mim, observou que aquilo parecia música de funeral. Era a minha equipe, mas não pude segurar a crise de riso depois deste comentário.

E lá estava a Janaína falando com os jurados para pedir desculpas pela apresentação. Segundo ela, foi o que garantiu nossa nota 8. Eu fiz a única coisa que poderia fazer: dar risada. E estou rindo até hoje.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

lady at the bus stop

a good place to meet strangers
Um título desses pode nos remeter, mentalmente, à alguma senhora simpática e delicada, talvez singela, que eu tenha conhecido no ponto de ônibus e que, de alguma forma, me cativou a ponto de escrever um texto sobre ela. Não nesse caso.

Eu já havia dito aqui que não devemos falar com estranhos unless they're hot a menos que eles falem conosco

Com o tempo eu revi essa "regra" e decidi ser mais desencanada em relação a isso, afinal, qual o problema? É só um estranho. Provavelmente não o verá novamente, comentarão algo sobre o clima e ficará por isso mesmo. E enquanto eu escrevia isso aqui, eu percebi que na verdade eu não revisei essa regra droga nenhuma, porque eu não saio por aí falando com estranhos a menos que eles realmente falem comigo. E, quando falo com eles, é porque preciso de alguma informação, mesmo.

Em todo caso, não me importo muito ou sempre que um estranho me aborda na rua. Façam aqui vocês as suas ressalvas (se estou na tpm, se estou com pressa, se estou triste, se tenho TOC, se tenho medo etc.) porque eu não darei conta de abranger todos motivos pelos quais alguém não gosta de ser abordado por desconhecidos na rua.

Mas enfim, essa senhora merece destaque tanto pelo desprendimento dela em falar com estranhos quanto à capacidade de tratar de diversos assuntos desconexos em pouco tempo, além da presunção de intimidade, como segue:

- Ow, psiu! Tenho um neto lindo igual esse menino aqui (indicando o rapaz que estava sentado ao seu lado)! É sim! Meu neto é bonito que nem ele! Vou te apresentar pro meu neto, pra você namorar com ele! Eu tenho três namorado! Um pra de manhã, um pra de tarde e um pra de noite! Hé-hé!
- Eu tava no médico, tenho muita queimação, gastrite, sabe? Você tem queimação, dor no estômago? Eu tenho! Mas consegui 100 comprimido de graça! Olha que bom!
- Mas nossa, como você é linda! Moça, você é muito bonita! Tinha que se candidatar a miss!  Tinha só que ganhar mais altura e perder um pouco peso, que tava ótimo! E aprender 10 línguas! Eu sei falar italiano, inglês, francês, sei falar filha da puta em árabe! É, eu sei! Filha da puta em árabe! Hé-hé!

[demonstrou seu conhecimento nos idiomas...]

- Mas sério, você é muito bonita, tem traços muito bonitos, não tem (perguntando pras pessoas do lado)?

[chega uma mulher com uma criança e senta do lado dela, que abre espaço]

- Você não quis sentar, né, fia? Pode sentar no meu colo! Como se fosse minha filha! Não tem problema! Não qué? Os correios tão em greve! Dia 20 os bancos vão tudo entrar em greve! Ih, a coisa só vai piorar! Com a COPA, então, aí só vai dá problema!

Ela só parou de falar comigo quando entramos no ônibus, e logo foi dizendo ao motorista:


- Sonhei com você! Eu tava dando um monte de beijo em você! Hé-hé!


Depois disso eu parei de escutar. Não é como se meu dia pudesse ficar mais estranho que isso. A não ser por outra mulher que, pouco depois, teve convulsão na minha frente, na rua (e que eu parei pra ajudar, obviamente), e também pela maquiagem medonha de uma atendente de uma loja de cosméticos. Sério, era cabulosa.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

é isso, mesmo?

everything is so boring...

O senhor acredita que quanto mais cedo aceitarmos que estamos sozinhos no mundo, mais felizes seremos?

É uma afirmação séria, essa. O que você acha?

Não sei. Às vezes eu penso sobre isso. Mas é um sentimento um pouco desolador. Talvez porque faça algum sentido.

Como assim?

Desconsiderando aquele discurso de algumas pessoas que dizem que preferem acreditar no ser humano, que esperam contar com os outros e que, quando passadas para trás, culpam sua bondade por não ter visto como a pessoa realmente era e que, a meu ver, uma coisa não tem nada a ver com a outra, penso que, na verdade, você não precisa ser mal ou malicioso para ter bom senso ou discernimento. Você pode ser bom, mas não precisa ser ingênuo ou bobo. E acho que esse tipo de raciocínio se aplica a essa questão de contar ou não com os outros.

Você já se decepcionou com alguém nesse sentido?

Sim, claro. E provavelmente decepcionei alguém também... eu não acho que posso sempre contar com os outros, mas gosto quando eu posso. Sinto-me aliviada, como dividindo um fardo. Mas realmente eu não espero contar com os outros, gosto de deixar esse fato para uma exceção, pra isso me surpreender. Manter as expectativas baixas, pra não me decepcionar.

Não acha que você está pegando muito pesado?

É, pode ser. Também não quero soar como a pessoa mais solícita do mundo, sentada no alto, observando os egoístas. Só acho que muitos que dizem esse tipo de coisa, que criticam o ser humano, ou mesmo os políticos, dizendo que todos eles são corruptos, elas mesmas, em suas vidas diárias são, como posso dizer... estúpidas.

E você?

Por incrível que pareça, não sou perfeita. Mas tento ajudar quando posso. Na verdade eu gosto muito de fazer as coisas com alguma companhia. Mas já por saber que é difícil conciliar duas vidas, a fim de que façam alguma coisa juntas, eu acabo fazendo sozinha. Talvez o apoio mal acabado ou aquela coisa mal feita acabe me desanimando de procurar alguém para me ajudar com alguma coisa. Eu mesma ajo dessa forma algumas vezes. Digo que vou ajudar e acabo não fazendo. E geralmente por motivos banais. Mas procuro mudar isso. Ou apenas evito comprometer-me quando não estou a fim, mesmo... mas afinal, o senhor concorda que quanto mais cedo aceitarmos que estamos sozinhos no mundo, mais felizes seremos?

Bem, eu até gostaria de ir mais a fundo na questão, mas o nosso horário acabou.

É. Acho que isso já responde a minha pergunta.